Desinteresse pela profissão de motorista compromete crescimento do País

desinteresse pela profissão de motorista pode ser um fator importante no comprometimento do crescimento do País. As condições de trabalho desafiadoras coloca a prova a vocação daqueles caminhoneiro que estão na ativa e afastam a possibilidade do jovem considerar a profissão na hora de decidir o seu futuro.

Conversamos com o Adriano Depentor, presidente do conselho superior e de administração do SETCESP (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região), que falou um pouco sobre o déficit de caminhoneiro, os principais problemas da falta de mão de obra e as expectativas para os próximos anos.

OCARRETEIRO: Qual o déficit de motoristas estimado pelo SETCESP? Qual a tendência para os próximos anos?

ADRIANO DEPENTOR: No país vem diminuindo o número de motoristas habilitados para direção de caminhão (categoria C e complementares) desde 2015. Até então, o crescimento era modesto (cerca de 1,4% ao ano), porém, nos últimos anos, tem caído a taxas de até -5.9% ao ano. São Paulo tem quedas ainda mais acentuadas, chegando a registrar uma diminuição de -8,9% nos motoristas habilitados entre 2017 e 2018.

A queda de registros de habilitados “C” já chega a 7,45% ao ano, nos municípios da base do SETCESP, com quedas mensais constantes na casa dos -0,65%. Além disso, o perfil de idade dos motoristas também mudou muito nos últimos 10 anos: em 2010, a grande maioria se encontrava na faixa de 41-50 anos de idade, enquanto em 2020 houve um envelhecimento, passando para a faixa entre 51-60 anos. O número de novos motoristas na primeira faixa 18-21 anos caiu 64,1%, mesma proporção da faixa 22-25 anos (63,7%).

OCARRETEIRO: A falta de motoristas no Brasil é uma questão de falta de mão de obra qualificada para exercer a atividade ou uma questão de falta de interesse?

ADRIANO DEPENTOR: Um fator gera o outro. A falta de interesse gera a não qualificação da mão de obra. Por mais que tenhamos meios para melhorar essa qualificação e as empresas estejam buscando investir dentro de suas dependências para isso, a falta de interesse ainda é muito grande e decorrente da desvalorização do setor como um todo.

Desinteresse pela profissão de motorista provoca falta de qualificação da mão de obra

OCARRETEIRO: No caso da qualificação, como convencer o motorista que está na estrada sentindo todos os reflexos de aumento de custos e baixo frete a buscar qualificação, sendo que para ele não há uma garantia de melhora?

ADRIANO DEPENTOR: Neste caso, as empresas devem exercer o papel de protagonista através dos treinamentos e da utilização das ferramentas que o setor disponibiliza. Para isso, uma excelente opção são os recursos oferecidos pelo Serviço Social do Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) para transformar a realidade desses motoristas e contribuir para com um setor mais qualificado. Já os embarcadores podem ir reconhecendo e valorizando as transportadoras como uma parte – se não a mais – importante da sua cadeia produtiva de negócio.

OCARRETEIRO: Por que é tão difícil convencer o jovem a escolher o caminhão como profissão? Hoje, é difícil assistir o filho do motorista querer seguir a profissão do pai. Existe um movimento de desinteresse pela profissão de motorista. 

ADRIANO DEPENTOR: Devido a desvalorização, desde a infraestrutura (assistência nas estradas, ponto de parada e segurança) até a remuneração e o mercado como um todo, e isso inclui governo, empresa, embarcadores, recebedores, etc. O jovem, hoje, quer dinamismo, reconhecimento e mais agilidade, então o setor deve ser reestruturado para que a qualidade cresça ainda mais e, com isso, novos perfis voltem a fazer parte do segmento.

Desinteresse pela profissão de motorista provoca atraso de crescimento

OCARRETEIRO: Quais ações precisam ser executadas para que reduza a escassez de profissionais no Brasil?

ADRIANO DEPENTOR: Primeiro de tudo deve ser a valorização da classe, proporcionando boa remuneração, uma infraestrutura adequada, segurança, capacitação e melhor qualidade de trabalho para todos os profissionais.

OCARRETEIRO: Quais os principais problemas que o País pode enfrentar caso nada seja feito para modificar essa realidade?

ADRIANO DEPENTOR: O principal problema, se nada for feito, é a falta de mão de obra que vai prejudicar o crescimento do País, trazendo um gargalo ou até mesmo um apagão logístico. Isso vai expandir a falta de profissional, trazendo esse atraso no crescimento. Vale ressaltar que o motorista é personagem principal do transporte. Mesmo com o avanço da tecnologia, os caminhões autônomos estão distantes, então a mão de obra ainda irá perdurar por muitos anos neste segmento.

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