Especialistas e defensores do trânsito seguro apresentam resultados e constatam a eficácia do exame preventivo previsto em lei
A violência nas estradas e vias urbanas ainda é uma tragédia no Brasil. Estamos entre os países onde mais se morre e se mata ao volante. A imprudência, aliada ao uso de álcool e drogas, é determinante nos acidentes, principalmente os fatais. No entanto, há sinais de que essa é uma guerra possível de ser enfrentada, com inovação, tecnologia e uma legislação adequada. Este foi o centro da discussão que reuniu especialistas, autoridades e defensores de um trânsito seguro, no último dia 20, no Salão Nobre da Bolsa de Valores do Rio.
Organizado pelo Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro (ITTS) com apoio do ESTÚDIO INFOGLOBO, o evento contou com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que já integrou a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, vinculada à ONU. FHC defendeu o exame toxicológico de larga janela de detecção, feito a partir da análise do fio de cabelo (ou ainda de pelos e unhas) e obrigatório para motoristas profissionais desde março de 2016. Na época de sua implementação, a lei gerou resistência por interesses de grupos contrariados e alguns estados entraram com liminares contra a sua aplicação.
– Ninguém gosta de inovação. Toda ideia nova é colocada à margem no começo. A primeira reação é sempre de negação. As pessoas precisam sentir que fazem parte da mudança, e é normal enfrentar uma série de obstáculos até que venham os dados – afirmou o ex-presidente.
Márcio Liberbaum, presidente do ITTS: “O exame já mostra a sua eficácia. O importante é combater o mal na fonte” – Marcelo de Jesus
Após seis meses de exame toxicológico obrigatório (de março a agosto), os primeiros resultados indicam a eficácia da medida. Foram cerca de 650 mil profissionais testados em todo o país, e a positividade para uso de drogas está em 9% para motoristas admitidos e demitidos no período. Mais de 33% dos condutores profissionais não renovaram sua carteira ou migraram para outra categoria, onde o exame não é exigido. Essa fuga expressa evidentemente um grande potencial de positividade escondida para uso de drogas.
Em paralelo, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), de março a julho de 2016, o número de acidentes envolvendo caminhões nas estradas federais do Brasil diminuiu de 18 mil para 11 mil, uma redução de 38%, em relação ao mesmo período do ano anterior. Para Márcio Liberbaum, presidente do ITTS, esse dado já comprova uma mudança no comportamento de motoristas usuários de drogas:
– O exame já mostra sua eficácia, seja porque o motorista parou de se drogar para fazer o exame no futuro nas condições adequadas, seja porque não consegue abandonar as drogas e decidiu mudar para outra categoria que não exija o exame– defende Márcio Liberbaum, presidente do ITTS.
Para o psiquiatra José Alberto Zusman, pós-doutor em Addiction pela Universidade de Harvard, o exame é uma importante medida prevent