Pesquisa aponta necessidade de mais investimentos para que o Brasil se beneficie do cenário internacional atual.
G1 Piracicaba e Região
om o cenário atual das exportações de soja, a disputa comercial entre China e Estados Unidos por mais espaço pode abrir caminho para outro nome de peso no mercado de soja: o Brasil. Mas, para isso, é preciso que haja novos investimentos na infraestrutura viária e de armazenamento para otimizar o escoamento dessa produção. É o que aponta um estudo do coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Thiago Guilherme Péra.
“A expectativa é de que, se essa briga [comercial] continuar, isso pode acabar afetando um nível maior de exportação da soja brasileira para a China, principalmente se tiver retaliação da China de deixar de comprar grãos dos Estados Unidos”, explica o docente.
Ele detalha que, mesmo com fortes investimentos no setor ferroviário e hidroviário – tanto oriundos na iniciativa pública quanto privada -, a participação da movimentação de grãos (soja e milho) em relação à quantidade produzida em 2010 era de 21,3% e passou para 27,9% para 2017. “É muito pouco ainda […] O Brasil já é bastante competitivo nos custos de produção. Por outro lado, perde muito na logística”, ressaltou.
Arco-Norte
No entanto, o coordenador pontua que, no período de 2010 a 2017, as exportações de grãos do Arco-Norte brasileiro cresceram 491%, enquanto que o corredor tradicional de exportação do sudeste (Santos e Vitória) cresceram 134% e o corredor tradicional do Sul (Paranaguá, São Francisco do Sul e Rio Grande) aumentaram 262%, frente a uma elevação de quase 70% da produção no mesmo período.
Além disso, a participação das exportações de grãos pelos portos do Arco-Norte passou de 15,1% em 2010 para 26,2% em 2017.
“Precisamos aumentar fortemente nossos investimentos para dar condição para um crescimento econômico a longo prazo no país. Investe-se pouco menos de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) em infraestrutura como um todo”, diz Péra. Um dos pontos que deve ser alterado, segundo ele, é a questão das prorrogações das concessões ferroviárias. ”Se você não consegue prorrogar as concessões, isso acaba afetando os investimentos que estas companhias têm para colocar”.
Armazenagem
Segundo o pesquisador, outro ponto que precisa ser aprimorado para que haja condições de absorver uma demanda maior por exportações de soja é a rede de armazenamento de grãos. Ele cita que, em 2010, o país tinha condições de armazenar por volta de 84,8% da produção de grãos, enquanto que em 2017 esta relação caiu para 67,15%.
“Quando se compara com outros países, os Estados Unidos têm condições de armazenar toda a safra e mais 50%. Se você tem regiões que você tem um déficit de armazenagem grande, você não consegue armazenar e tem de escoar rápido e acaba fazendo o estoque sobre rodas e isso afeta bastante. E acaba criando filas quilométricas nos terminais ferroviários, portuários, pra movimentar o produto e ter onde guardar”, finalizou.