Via, que custou quase R$ 2 bilhões, está malconservada e se tornou área de risco para os motoristas
Em apenas quatro anos, o Arco Metropolitano do Rio — rodovia que liga Manilha, em Itaboraí, ao Porto de Itaguaí — já apresenta sinais de fadiga. A obra, inaugurada em 2014 ao custo aproximado de R$ 2 bilhões, prometia alavancar a economia do estado. Não lhe faltavam credenciais para isso, à medida que o anel rodoviário corta as principais estradas de acesso à capital fluminense. Mas o progresso, na verdade, nunca passou por ali. Aliás, são cada vez menos os que trafegam pela via. Projetada para um movimento de 30 mil veículos por dia, ela não registra mais do que 15 mil, ou seja, a metade. Um dos motivos para a ociosidade é a falta de segurança.
Os assaltos, principalmente ao transporte de carga, são corriqueiros, o que tem obrigado caminhoneiros a andarem em comboios. Além disso, à noite, não é raro encontrar trechos mergulhados na escuridão, o que aumenta a sensação de insegurança. Não deveria ser assim, já que a rodovia é coalhada de postes de iluminação alimentados por energia solar. Cada unidade custou ao contribuinte R$ 22 mil. Mas centenas já não funcionam. O estado alega que ladrões têm roubado as baterias — eles chegam a derrubar os postes para facilitar o furto. O abandono, de fato, é flagrante. Como mostrou reportagem do GLOBO publicada na última quarta-feira, placas de sinalização e radares instalados ao longo da via estão danificados.
Outro problema que ronda o arco rodoviário é a ocupação irregular. Sem fiscalização por parte do estado e dos municípios cortados pela via, tem crescido o número de construções clandestinas na faixa de domínio da estrada. Relatório recente da Câmara Metropolitana cita ainda o comércio ilegal, a apropriação de terras públicas e a abertura de pelo menos 79 acessos ilegais, o que aumenta o risco de acidentes. Diante desse quadro, a transferência da gestão do Arco Metropolitano para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), do governo federal, é oportunidade para se recuperar a rodovia.
A decisão, efetivada no mês passado, foi do próprio governo fluminense, que alegou o agravamento da crise financeira — o estado gastava R$ 19 milhões por ano para manter a estrada. Agora, o Ministério dos Transportes estuda conceder o trecho à iniciativa privada. A ver. A importância estratégica do Arco é inegável. A rodovia é alternativa para escoar a produção e aliviar o tráfego na Região Metropolitana. Por isso, não pode ser abandonada pelo poder público. Uma estrada de R$ 2 bilhões precisa oferecer, no mínimo, segurança e boas condições de tráfego aos usuários. Ou se tornará terra de ninguém. Espera-se, portanto, que a mudança não represente mera troca de placas com o velho slogan “sob nova direção”.
O Globo